Deus existe?
Uma pequena exposição da primeira via de São Tomás de Aquino para demonstrar a existência de Deus criador
"Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser conhecida com certeza pelas suas obras, graças à luz da razão humana" (Catecismo da Igreja Católica).
Tentarei expor de forma clara e completa a primeira via de São Tomás de Aquino, a via do movimento que já adianto: nada tem a ver com causalidade, para demonstrar o Ser de Deus. Digo ser e não existência, pois "existir" etimologicamente é ser derivado de outro e Deus não é derivado de nada, portanto Deus não existe; é.
Noções
Ato: as coisas estão em ato a medida em que são, em que existem.
Potência: as coisas estão em potência a medida em que não são, mas podem vir a ser, que não existem, mas podem existir.
Movimento: transição de potência para ato.
Ex: Digamos que eu tenha uma parede branca que quero pintar de azul. A parede é branca em ato e azul em potência, e a transição de branca para azul chama-se movimento.
Deduções
1. Necessidade de existir o ato e a potência.
Essa necessidade surge do problema de Parmênides, que acreditava que as coisas são todas uma única coisa, porque existe o conceito de ser e o não-ser, ora o não-ser não existe, mas todos aqui existem, portanto todos são a mesma coisa. É evidente, no entanto, que não somos a mesma coisa. Como, porém responder ao problema? Aristóteles o faz, com grande maestria, expondo a doutrina do ato e da potência, diz o Ser é puro ato, nós no entanto, embora tenhamos a existência, variamos quanto as potencialidades, o que nos torna individuais. Assim mostra-se que é necessário haver ato e potência.
2. Nada pode estar em potência e em ato acerca da mesma coisa ao mesmo tempo.
Nada pode estar em potência e em ato acerca da mesma coisa ao mesmo tempo, porque ela estaria sendo e não sendo ao mesmo tempo, estaria existindo e não existindo ao mesmo tempo; uma contradição, possibilidade refutada por redução ao absurdo. P. ex: Uma porta fechada em ato que pode ser fechada. Isso não faz sentido, ninguém fecha uma porta fechada.
3. O movente deve estar em ato, enquanto o movido em potência.
O movido deve estar em potência, porque movimento é a transição de potência para ato, ou seja, é necessário que aquele que é movido tenha possibilidade de movimento, em outras palavras, esteja em potência, pois o ato não é movido. Para que a porta do exemplo anterior possa ser fechada, esta deve estar aberta em ato, mas fechada em potência para que então possa ser fechada. Sobre o movente estar em ato, para que algo mova outro, este algo já precisa ter em si aquilo que possibilitará a atualização do outro. P. ex: imagine um fogo frio que esquente, não faz sentido. Para que o fogo esquente ele deve ter o calor em ato, assim possibilitando esquentar outras coisas (movê-las). Resumindo: Para que x mova y, x deve estar em ato, enquanto y em potência.
4. Nada move a si próprio.
Como já concluí em (1) e (2), para que algo se mova, o movente deve estar em ato, enquanto o movido em potência e nada pode estar em potência e ato ao mesmo tempo. Ora, se é assim nada pode mover a si próprio, pois precisaria já ter em ato aquilo que quer adquirir mediante o movimento. Adendo: Uma parte de algo pode estar em potência enquanto outra parte em ato, possibilitando que uma parte mova a outra, isso ocorre com alguns animais, mas o ser completo, enquanto ser completo não pode estar em ato e potência ao mesmo tempo.
5. Tudo o que se move é movido por outro.
Se nada move a si próprio (4) e as coisas se movem (1), então tudo o que se move é movido por outro.
6. Há uma cadeia de moventes e movidos.
Ora, se tudo o que se move é movido por outro é notório que há uma sequência, uma cadeia de moventes e movidos. Peguemos o exemplo da parede para pintá-la, primeiro a parede deve estar azul em potência, depois o pincel deve ter tinta azul em ato, mas deve estar pintando em potência e o pintor deve estar pintando em ato. Assim a cor da parede é movida pelo pincel que é movido pelo pintor.
7. A cadeia de moventes e movidos não pode ser infinita.
Infinito é aquilo que não tem começo, meio nem fim. Ora, mas se há uma cadeia onde x deve mover y para mover z e essa cadeia tivesse uma infinidade anterior, x nunca se moveria e não poderia mover y etc, porque o fim do movimento que possibilitaria x nunca chegaria, pois o infinito não tem fim. Se a cadeia de moventes e movidos fosse infinita, então o movimento presente nunca aconteceria, no entanto, é evidente que está acontecendo, você estar lendo é a prova disso.
8. Há um Primeiro Motor Imóvel.
Veja, se há uma cadeia de moventes e movidos (6) e ela não pode ser infinita (7), então é necessário haver um Primeiro Motor que por ser o primeiro de toda a cadeia é imóvel, ou seja, não tem potência, já que se o tivesse, não poderia mover certas coisas e teria de ser movido por outro.
9. A perfeição do Primeiro Motor.
Por não ter potência, o Primeiro Motor é puro ato, o que faz com que ele seja o próprio Ser (1), "o Pensamento do pensamento, [...] Inteligência de inteligência" - Aristóteles, sendo Puro Ato, ele é perfeito e não carência de nada, pois se o tivesse seria uma potencialidade a ser preenchida, mas aquele não tem potência não tem potencialidade, simplesmente é. A este Primeiro Motor todos dão o nome de Deus, o Ser supremo.
10. Portanto, Deus é.
"Disse Deus a Moisés: "Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês"." (Êxodo 3:14).
Ainda sou um estudante, no entanto creio que a exposição ficou satisfatória. Salve Rainha. Viva Cristo Rei.